11 de outubro de 2010

Cirurgia Bariátrica

      Atualmente, conhece-se mais de 6 tipos de cirurgias restritivas ou disabsortivas realizadas no estômago e algumas envolvendo o intestino para promoção da perda de peso em obesos. Fico assustada como este nicho de mercado cresceu e cresce. Tá bem que tudo decorrente de uma obesidade que cresce também mas seriam todos estes obesos candidatos à cirurgia bariátrica? Recebo quase que semanalmente pacientes para avaliação de pré-operátorio ou mesmo aqueles tentando por uma última vez que seja, escapar-se da "faca". Cabe aqui colocar, que são candidatos à cirurgia, seguindo critérios básicos preconizados, pacientes com o Índice de Massa Corporal (IMC) superior a 40 ou superior a 35 com comorbidades clínicas associadas como por exemplo hipertensão, hipercolesterolemia, resistência à insulina entre outros.
     Este tipo de tratamento não é milagroso como muitos pensam, os efeitos pós-operatórios, os cuidados a serem tomados, as taxas de complicações associadas e a mudança no estilo de vida devem sempre ser considerados. Me revolta, como nutricionista e sobretudo profissional da saúde, a maneira como a indústria deste tipo de cirurgia cresceu. Há pacientes que chegam para mim, obesos, querendo ganhar peso para que então possam se operar. Como eu poderia condizer com isso?
     O pós operatorio, do ponto de vista nutricional é bastante drástico. Meses fazendo consumo de alimentos líquidos e restritos, quantidades que devem ser muito bem controladas e que quando em excesso ou de fonte não tolerável tendem a desencadear vômitos. Em algumas dessas cirurgias, a má absorção de nutrientes é mais do que considerável, estes pacientes devem até o último dia de suas vidas fazer uso de suplemento. E a esperança de ter um corpo de Miss (nem vou comentar de modelo) é na maior parte dos casos impossível. Perde-se peso de fato, as vezes bastante peso mas a custa de que?
    Vejo muitos pacientes depositarem nestas cirurgias a cura de todos seus problemas, a causa de sua felicidade, uma mudança completa na vida. Só não podemos esquecer que muitas vezes o corpo muda mas a cabeça continua a mesma caso não seja trabalhada. O excesso de peso que pode ser considerado o responsável por outros tantos problemas é na verdade, em muitos casos, a solução momentânea deles.
    O alimento acaricia, supre carências afetivas. O gordo gosta de comer. E o que a cirurgia de um modo geral muda? o tamanho do estomago (que por ser um músculo, dilata). Nem tudo o que reluz é ouro, para ser e estar magro é preciso que se queira e que se consiga aceitar como tal. De repente a camada de gordura que protege o indivíduo de seus problemas e das situações de vida é removida, será que ele está apto para sozinho lidar com isso?
     Não sou contra este tipo de cirurgia, sou contra a maneira disseminada com que estas tem sido realizadas. Há casos em que eu propriamente, costumo indicar procura. É preciso critérios mais rigorosos e profissionais capacitados para avaliar e acompanhar estes pacientes e juntos ao invés de promover só uma diminuição do volume estomacal, promover mudança dos hábitos alimentares, do estilo de vida e resolver os problemas que antes o levavam à comida.
    

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